Jovem alemã escondeu-se na Holanda durante 25 meses, até que a família foi descoberta e deportada para Auschwitz. Graças ao diário que escreveu, Anne Frank ainda é conhecida mundo afora, 70 anos após sua morte.
Fugindo dos nazistas
Em 1933, Anne Frank e a família fugiram da Alemanha para Holanda. Para escapar dos nazistas, eles tiveram de se esconder durante a Segunda Guerra Mundial. Viveram dois anos nos fundos de uma casa em Amsterdã. Mas alguém denunciou o esconderijo, e, em 4 de agosto de 1944, a família foi descoberta, presa e deportada para o campo de extermínio de Auschwitz.
A família
Anne (na frente, à esquerda) tinha uma irmã três anos e meio mais velha, Margot (no fundo, à direita). O pai Otto Frank tirou esta foto no aniversário de oito anos de Margot, em fevereiro de 1934, quando a família já estava na Holanda.
Escondidos em Amsterdã
Em Amsterdã, o pai de Anne assumiu a filial da empresa Opekta (foto). Quando a perseguição aos judeus começou, ele montou um esconderijo nos fundos da casa. De 1942 a 1944, os quatro membros da família viveram no local junto com outros quatro judeus. No esconderijo, Anne escreveu seu famoso diário. Desde 1960, a casa é um museu.
O esconderijo
No museu em Amsterdã, os visitantes podem visitar hoje uma réplica do antigo esconderijo nos fundos da casa. Por meses, Anne dividiu um quarto apertado com o dentista judeu Fritz Pfeffer, que no diário ganha o nome “Albert Dussel”. À direita, vê-se a escrivaninha sobre a qual ela escrevia quase todos os dias.
Diário como confidente
O diário tornou-se uma espécie de amiga e confidente de Anne, que ela batizou de Kitty. A vida no esconderijo era totalmente diferente da que a jovem levava antes dele. “O melhor de tudo é que ao menos posso escrever o que penso e sinto, senão, ficaria completamente sufocada”, diz um trecho do diário.
Morte no campo de concentração
Em 30 de outubro de 1944, Anne e a irmã Margot foram levadas de Auschwitz para Bergen-Belsen, onde mais de 70 mil pessoas morreram. Após a libertação do campo de concentração sob a supervisão de soldados britânicos, caminhões transportaram as vítimas para valas comuns. Anne, que tinha apenas 15 anos, e a irmã estavam entre os mortos, em decorrência do tifo.
Vida interrompida
Em Bergen-Belsen, há uma lápide com o nome de Anne, que imaginava que a própria vida correria de maneira diferente. “Não quero ter vivido em vão como a maioria das pessoas. Quero ser útil e trazer alegria para as pessoas que vivem à minha volta e não me conhecem. Quero continuar viva, mesmo depois da morte”, diz um trecho do diário do dia 5 de abril de 1944.
Famosa pelo diário
O sonho de Anne era ser jornalista ou escritora. Graças ao pai, seu diário foi publicado pela primeira vez em 1947, com o título “Das Hinterhaus”(“A casa dos fundos”). Depois, vieram diversas edições e traduções, e Anne tornou-se símbolo das vítimas do nazismo. “Todos vivemos com o objetivo de sermos felizes. Vivemos de maneira diferente e igual ao mesmo tempo”, escreveu em 6 de julho de 1944.
1929: Nasce Anne Frank
Em 12 de junho de 1929, nascia a menina que daria um rosto ao Holocausto. Desde a publicação de seu diário em 1947, Anne Frank é símbolo contra a intolerância. Sua paixão pessoal “humanizou” o inconcebível extermínio.

O Diário de Anne Frank já foi editado em mais de 50 idiomas e vendeu, desde sua publicação em 1947, dezenas de milhões de exemplares. O livro foi adaptado para o palco e, entre 1959 e 2001, inspirou 11 filmes de cinema e TV, da Holanda a Hollywood.
Nascida em 12 de junho de 1929, a autora faleceu com apenas 15 anos de idade no campo de concentração nazista de Bergen-Belsen. Valor literário à parte, o maior mérito de Anne foi, postumamente, ter dado um rosto ao Holocausto.
Pois, se Otto Frank não houvesse decidido publicar os registros íntimos dessa adolescente, feitos durante os dois anos em que a família esteve escondida dos nazistas em Amsterdã, ela seria apenas mais uma entre os 6 milhões de judeus exterminados.
Um rosto no Holocausto
Mais do que assassiná-los, o regime nazista apagou milhões de existências, condenando os mortos ao anonimato. Isso permite que, até os nossos dias, haja quem tente não só negar a dimensão da carnificina (“Certo, mataram alguns judeus, mas 6 milhões?!”), mas também racionalizar o injustificável, procurando motivações políticas e econômicas, enfim, a “culpa” dos judeus por seu destino.
Felizmente, é quase impossível manter essa pretensa objetividade, ao ouvir de uma adolescente – que se expressa no tom singelo de uma irmã, amiga ou filha – os efeitos da campanha assassina de Hitler sobre o cidadão comum. Ao ler seu diário, nos damos conta que quem sofreu tantas frustrações, humilhações e outros atos de violência poderia ser qualquer um de nós, judeu ou não.
Thomas Heppener, da Casa Anne Frank, em Amsterdã, acredita que a menina tornou-se “um símbolo e a vítima mais conhecida dessa época”. Apesar de tudo o que já foi dito, escrito e mostrado sobre o período de 1933 a 1945 na Europa, “esse diário é a melhor forma de penetrar nas esperanças e desejos das pessoas”, afirma.
Nazistas fecham o cerco
Os Frank mudaram-se de Frankfurt para a Holanda exatamente em 1933, ano em que os nacional-socialistas subiram ao poder. Otto, pai de Anne, fundou uma firma em Amsterdã. Durante sete anos, a família levou uma vida normal e pacífica.
Esse quadro se transformou de um só golpe quando os nazistas ocuparam a Holanda, em 1940, segundo ano da Segunda Guerra Mundial. Assim como os outros judeus, a família foi sendo pouco a pouco cerceada, o acesso à escola e às piscinas públicas lhes foi cortado, e o pai de família não pôde mais gerir seus próprios negócios. Todos os judeus tinham que portar o estigma da estrela amarela em público, sob ameaça de severas penas.
Quando, em 1942, Margot, uma das irmãs, foi convocada para trabalhar no Leste Europeu, os Frank decidiram entrar para a clandestinidade. Enquanto nos escritórios e depósitos “oficiais” continuavam as atividades usuais da firma de Otto, eles passaram a habitar, juntamente com uma família amiga, as salas vazias nos fundos do prédio.
Uma escada unia as duas partes da casa, e a passagem era camuflada por uma estante móvel. Ao todo, oito pessoas passaram 25 meses nesse esconderijo, totalmente isoladas do mundo exterior. Isto só foi possível com a conivência de quatro funcionários, que traziam comida e livros, e os mantinham informados sobre os acontecimentos políticos.
“Kitty”, o confidente

Um diário, denominado “Kitty”, tornou-se o confidente de Anne nesse exílio e fuga mental para as limitações do dia-a-dia. A ele, a menina confiava suas idéias e aspirações, sua opinião sobre os inevitáveis atritos interpessoais ditados pela convivência longa e forçada no esconderijo.
De forma tocante, ela falou de seu desenvolvimento físico, das relações com o pai e a mãe, e do amor. Revelou detalhes cotidianos aparentemente insignificantes, como a restrição de ir ao banheiro somente à noite, quando a firma estava fechada. Mas também narrou momentos de pavor, noites em que a capital holandesa foi bombardeada, ou a presença de estranhos na loja, que forçava os fugitivos à imobilidade quase total.
Símbolo universal contra a intolerância
Porém, em 1944, alguém – até hoje não se sabe exatamente quem – denuncia os clandestinos. Poucos dias depois, a SS revistava a firma, levando os oito embora, de início para um campo de trabalho forçado na Holanda.
Mais tarde, foram transportados num trem de carga até Auschwitz, e de lá a Bergen-Belsen, na Baixa Saxônia. Em março de 1945, poucas semanas antes da libertação desse campo, Anne e Margot morreram de tifo.
Dos oito clandestinos da Prinsengracht 263, apenas Otto Frank sobreviveu ao Holocausto. A casa onde a família se ocultou durante dois anos foi transformada em museu em 1957, recebendo uma média de 900 mil visitantes por ano, sobretudo jovens.
Ela é um monumento palpável contra o antissemitismo e outras formas de intolerância. Na África do Sul, por exemplo, Anne foi transformada num símbolo do combate ao racismo. Segundo Jan van Kooten, da Fundação Anne Frank: “Ela nunca será esquecida. Quer no Chile, no Brasil ou na Bolívia, ela é conhecida e amada em todo o mundo”.
Anne Frank morreu antes do que se pensava, aponta estudo
Pesquisadores de museu em Amsterdã afirmam que jovem judia, símbolo das vítimas do Holocausto, apresentou sintomas de tifo em janeiro de 1945 e, portanto, é improvável que tenha sobrevivido até o fim de março.
Anne Frank morreu num campo de concentração nazista um mês antes do que o que se supunha anteriormente, afirmaram pesquisadores nesta terça-feira (31/03), o 70º aniversário de sua morte, segundo a data oficialmente reconhecida.
A jovem judia provavelmente morreu no campo de Bergen-Belsen em fevereiro de 1945, aos 15 anos, afirmou em comunicado o museu Casa de Anne Frank, em Amsterdã, com base numa nova pesquisa.
A Cruz Vermelha apontara que as mortes de Anne e Margot ocorreram no campo de concentração no norte da Alemanha em março de 1945, e autoridades holandesas estabeleceram, então, 31 de março como a data oficial.
O diário escrito por Anne no período em que a família se escondeu dos nazistas durante a ocupação da Holanda foi publicado após a Segunda Guerra Mundial, tornando-se um bestseller internacional e transformando a jovem num símbolo das vítimas do Holocausto.
A nova data pouco altera o destino trágico de Anne e Margot. “Foi horrível. Foi terrível. E ainda é”, diz Erika Prins, pesquisadora da Casa de Anne Frank. No entanto, a nova data descarta a ideia de que as irmãs poderiam ter sido salvas se tivessem vivido apenas mais algumas semanas.
“Quando se fala que elas morreram no fim de março, isso dá a sensação de que elas morreram pouco antes da libertação”, diz Prins. “Isso não é mais válido.”
Anne e os demais membros de sua família mantiveram-se escondidos dos nazistas a partir de 1942, nos fundos de uma casa em Amsterdã, até que foram descobertos e deportados para a Alemanha em 1944.
Anne e Margot foram transferidas de Auschwitz para Bergen-Belsen em novembro daquele ano. Quatro sobreviventes do campo relataram que as irmãs mostraram sintomas de tifo no final de janeiro de 1945.
“A maior parte das mortes por tifo ocorre cerca de 12 dias depois que os primeiros sintomas aparecem”, aponta o novo estudo, com base no Instituto Nacional Holandês de Saúde Pública e Meio Ambiente. “Portanto, é improvável que elas tenham sobrevivido até o fim de março.”
Enquanto as datas exatas da morte de Anne e Margot seguem desconhecidas, uma sobrevivente de Bergen-Belsen, Rachel van Amerongen, conta que “um dia, elas simplesmente não estavam mais lá”.
Centro em Berlim mantém vivo legado de Anne Frank
Com auxílio de voluntários, casa na capital alemã ajuda estudantes a conhecerem a história da adolescente judia, que morreu há 70 anos num campo de concentração e ficou famosa por seu diário.
Bairro de Mitte, em Berlim: o famoso labirinto de pátios internos dos Hackesche Höfe atrai turistas com suas lojas exclusivas e cantos pitorescos iluminados de forma sugestiva, num ambiente art nouveau perfeitamente restaurado.
Alguns passos adiante, subindo a rua Rosenthaler Strasse em direção ao badalado bairro de Prenzlauer Berg, uma discreta placa ao lado de uma entrada de garagem faz os mais atentos pararem por um momento. Mas a maioria só observa de passagem o pátio cinzento, com ar de república de estudantes, paredes grafitadas, dezenas de bicicletas e onde jovens das mais diferentes nacionalidades se acotovelam.
Os estudantes que estão ali hoje vem do município de Mühlenbecker Land, Brandemburgo. Não são jovens de cidade grande. A professora tenta ganhar a atenção deles, ainda ocupados com os próprios celulares, entre risinhos e cochichos.
Uma escada maltratada, rangente, leva ao segundo andar do prédio dos fundos. No alto, abre-se uma sala de exposições inundada de luz, com muitas fotos nas paredes e umas poucas vitrines. Logo na frente está um ícone: a reprodução fiel do diário que Anne Frank (1929-1945) ganhou de presente ao completar 13 anos, com a capa de tecido xadrez vermelho e branco e a fechadura dourada.
Anne Frank aqui e agora
O Centro Anne Frank de Berlim não pretende ser um museu, explica um dos guias, Emre, de 26 anos. Um total de 20 voluntários, quase todos estudantes, se encarrega de acompanhar as classes de estudantes. A maioria dos que aqui vêm tem entre 12 e 16 anos de idade e frequenta o curso extra em História ou Alemão, mas há também alunos do estudo fundamental. Afinal, o centro conta com 30 mil visitantes por ano, muitos deles do exterior.
“Quando vocês ouvem o nome Anne Frank, o que é que vem à cabeça?”, pergunta Emre. “Pode ser em relação à pessoa, ou à época em que ela viveu.” Todos escrevem avidamente as fichas que receberam.
O guia observa com olhar paciente como a agitação vai gradativamente amainando. E faz um resumo dos conceitos lançados: a maioria escreveu “diário”, outros, que ela era judia, que teve de se esconder, ou que foi perseguida.
E vem a segunda pergunta: “Vocês têm coisas que sempre quiseram saber sobre este assunto?” A reação vem imediata: “Por que Hitler detestava os judeus?”, “Como teria sido a vida de Anne no campo de concentração, se ela tivesse sobrevivido?”
Emre responde com habilidade às questões difíceis e vai sutilmente guiando os adolescentes pela história adentro. “Vocês acham que existem outros diários de adolescentes da época?” Todos olham com espanto quando ele lista a quantidade de diários escritos durante o nazismo. “Anne não foi a única. Então, por que o diário dela terá ficado tão famoso?” Ninguém sabe a resposta, mas todos estão agora envolvidos no tema.
Interesse universal
O círculo de bancos de feltro vermelho se desfaz, a classe se divide em grupos menores, com tarefas específicas, ao longo da sala comprida, organizada como uma linha de tempo, de 1933 a 1945.
À esquerda está a história pessoal dos Frank, o quotidiano em Frankfurt, a fuga para a Holanda. À direita, o mundo político paralelo, fatos que vão das primeiras perseguições aos judeus na Alemanha nazista até os horrores dos campos de concentração.
Os escolares se aprofundam, discutindo animadamente, no mundo de imagens interpolado de páginas do diário. Anne brincando na caixa de areia em 1937; na praia com a irmã maior, Margot; com sua classe na escola montessoriana. Mais ao fundo, estão as fotos do apertado esconderijo, numa casa dos fundos em Amsterdã, onde ela e família passaram dois anos, até serem denunciados.
“Angustia-me, mais do que posso dizer, que a gente nunca possa sair, e tenho grande medo de sermos descobertos e aí fuzilados”, lê-se na parede a entrada no diário de 28 de setembro de 1942.
A concepção da mostra funciona imediatamente: os alunos não tiram os olhos dos painéis de fotografias, ninguém está mais fazendo brincadeiras. A Casa de Anne Frank de Amsterdã, organização parceira do centro berlinense, desenvolveu essa linha cronológica como uma caixa de tesouro científica, não como processamento museológico da história.
Atualmente há centros Anne Frank por todo o mundo, em Londres, Basileia (Suíça) e Nova York. A biografia da menina judia conquista seu público por toda parte, em todas as faixas etárias, não importa em que idioma.
Mensagem recebida
“Eu vou te confiar tudo, espero, como nunca pude contar a ninguém”, lê-se na entrada de 12 de junho de 1942. São frases que oscilam entre coragem e desespero, que preservaram os desejos e pensamentos mais íntimos, e que comovem até hoje.
O diário sobreviveu, a própria Anne, não – aprendem os visitantes adolescentes. Pouco depois da irmã mais velha, ela sucumbiu ao tifo no campo de concentração de Bergen-Belsen, duas semanas antes da libertação pelas Forças Aliadas.
“Vocês precisam imaginar que ela não podia tomar nem um banho de chuveiro, não tinha sapatos. No campo não havia nada para comer, a não ser pão duro como pedra e uma sopa aguada.”
Silêncio. Todos miram Em ri por um momento, chocados. Com imagens definidas, ele procura fazê-los visualizar a brutal realidade da vida das crianças judias da época. “Ela com certeza não queria morrer assim”, comenta baixinho uma das meninas à companheira do lado.
À saída, um mural com pequenas notas quadradas atrai o olhar: “Todo o respeito por você, Anne”, lê-se numa delas. “Parem com guerras. Anne Frank vive. Nunca a esqueceremos”, escreve Miguel, do Panamá. “É sempre mais fácil amar do que odiar”, afirma uma menina da Polônia.
São palavras de admiração, reconhecimento, contra a guerra e o ódio, em favor do amor. As mensagens transmitidas em Berlim chegaram a seus destinatários: Anne Frank, uma jovem que até hoje estimula os outros à coragem.
“Nós vivemos todos com a meta de sermos felizes, vivemos todos diferente, mas, na verdade, igual”, anotou ela em 6 de julho de 1944, em seu pequeno diário quadriculado. Ainda bem que ele foi preservado para a posteridade.