Tribo Khoisan uma luta secular pela sobrevivência

Khoisan ou Khoi-San (também grafado como coisã, ou coissã) é a designação unificadora de dois grupos étnicos do sudoeste de África que partilham algumas características físicas e linguísticas distintas da maioria banta do sul da África. Esses dois grupos são os san, também conhecidos por bosquímanos ou boximanes e que são caçadores-coletores, e os khoikhoi, que são pastores e que foram chamados hotentotes pelos colonizadores europeus. Aparentemente, estes povos têm uma longa história, estimada em vários milhares (talvez dezenas de milhares) de anos, mas agora estão reduzidos a pequenas populações, localizadas principalmente no deserto do Kalahari, na Namíbia, mas também no Botsuana e em Angola.

História

Os khoikhoi e os san atuais podem ser descendentes de povos caçadores-colectores que habitavam toda a África Austral e que desapareceram com a chegada dos bantos a esta região, há cerca de 2 000 anos. Não é provável que os bantos tenham exterminado os khoikhoi e os san, uma vez que algumas das suas características linguísticas e físicas foram assimiladas por vários grupos bantos, como os xhosas e os zulus. É mais provável que a redução do seu território de caça, derivado da instalação dos agricultores bantos, tivesse sido uma causa para a redução do seu número e da sua área habitada. Até a instalação dos holandeses na África do Sul, há cerca de 200 anos, estes povos ainda povoavam grandes extensões da Namíbia e do atual Botswana.

Estes colonos chamaram os khoikhoi de hotentotes – que significa “gagos” na língua neerlandesa, provavelmente devido à sua língua peculiar. Os san foram, por muito tempo, chamados de “bosquímanos”, ou seja, “homens do mato”, termo emprestado do inglês bushman. Tanto “bosquímanos” quanto “hotentotes” têm, actualmente, uma conotação pejorativa. Os nomes san e khoikhoi que se utilizam actualmente são derivados das suas línguas (ver línguas khoisan).

No entanto, a palavra hotentote continua a ser utilizada nos nomes de várias plantas e animais da África Austral, tanto nos nomes populares (chorão-das-praias – Carpobrotus edulis, em inglês hottentot fig, “figo hotentote”; ou o toirão-hotentote, Turnix hottentottus) como em nomes científicos, como Turnix hottentottus, o já citado toirão-hotentote; Bolbena hottentotta, uma espécie de louva-a-deus; e Anas hottentota, uma espécie de pato.

Hoje em dia, há uma população san significativa na Namíbia, onde a sua língua tem um estatuto oficial, sendo utilizada no ensino até ao nível universitário. Comunidades menores existem no Botsuana e no sul de Angola.

Anatomia

Fisicamente, os khoisan são em média mais baixos e esguios que os restantes povos africanos. Além disso, possuem uma coloração de pele amarelada e prega epicântica nos olhos, como os chineses e outros povos do Extremo Oriente. Algumas destas características são agora comuns a outros grupos étnicos sul-africanos, sendo patentes por exemplo em Nelson Mandela.

Uma outra característica física dos khoisan é a esteatopigia das mulheres (grande desenvolvimento posterior das nádegas), que levou a que uma mulher tivesse sido levada para a Europa no século XIX e usada para exibição em feiras, a famosa Vénus Hotentote.

Genética

Mapa étnico de Angola em 1970 (áreas onde se encontram núcleos populacionais san marcadas a vermelho-escuro)

Os khoisan possuem o mais elevado grau de diversidade do ADN mitocondrial de todas as populações humanas, o que indica que eles são uma das mais antigas comunidades humanas. O seu cromossomo Y também sugere que, do ponto de vista evolucionário, os khoisan se encontram muito perto da “raiz” da espécie humana.

De acordo com um estudo genético autossômico de 2012, os khoisan podem ser divididos em dois grupos, correspondentes às regiões noroeste e sudeste do Kalahari, os quais se separaram nos últimos 30 000 anos. Todos os indíviduos testados na amostra apresentaram ancestralidades de populações não khoisan, que foram introduzidas no período de 1 200 anos atrás, como resultado da expansão banta. Além disso, os hadzas, um grupo de caçadores-coletores do Leste da África, que também utilizam uma língua baseada em cliques (como a dos khoisan), possuem um quarto de sua ancestralidade vindos de uma população relacionada aos khoisan, revelando uma ligação genética antiga entre o Sul da África e o Leste da África.[5] Ou seja, as populações khoisan de Angola e da Namíbia teriam se separado daquelas da África oriental entre 25 000 e 40 000 anos atrás.De acordo com um estudo genético de 2014, eles podem ter sido o maior grupo humano no mundo em termos demográficos no período entre 120 mil a 30 mil anos atrás.

Khoisan

 
Mulher san do Botswana
 
População total
 
Regiões com população significativa
Namíbia, Botsuana e Angola
Línguas
línguas khoisan
Religiões
"Khoisan ocupados grelhando gafanhotos", pintura de Samuel Daniell de 1805
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/df/%22The_Portuguese_and_Hottentots%22%2C_from_page_74_of_%22Pioneers_in_South_Africa%22_%281914%29_%2814760195211%29.jpg

"Portugueses e hotentotes", gravura do livro "Pioneiros na África do Sul", de 1914
Menino san observando um helicóptero. Fotografia de Paul Weinberg.
 

A tribo Khoisan, designação atribuída pelos colonizadores, é considerada a primeira a habitar as região Austral, Central do continente africano e, consequentemente de Angola.

Hoje, a sua matriz está condenada a desaparecer em Angola. A ausência de um estatuto e reconhecimento político, associado a mestiçagem destas minoritárias étnicas são apontadas por especialistas como podendo ser uma das causas. Era quase meio da tarde de uma Quinta-feira. O clima na região estava bastante friorento, a vegetação arbórea e fechada.

A nossa reportagem chegava a uma das zonas onde habitam os povos Khoisan, em maior número, isto é entre a região do Kuando Kubango e o município do Cuanhama, no Cunene mais precisamente na localidade de Úcala.

Embora a região de Bondo Caílo seja tida como o bastião destes povos, no município do Cuangar, na província do Cunene podem ser também localizados os também denominados kamussekeles ou Mukuankalas.

No local apuramos que, à semelhança de outras zonas da mesma região, a comunidade se via a braços com dificuldades diversas, inclusive alimentares e de falta de água motivada pela seca cíclica na região.

“Não temos nada para comer. Não existe chuva há muito tempo. Temos que passar por várias zonas à procura de alimentos e frutos silvestres para alimentar as crianças”,- descreveu o líder daquela pequena comunidade Khoisan em Ùcala, Munssili Nsimpa. Esta situação tem sido motivo de preocupação por parte desses povos que são considerados minoritários, excluidos e que estão entregues à sua sorte, segundo fontes de OPAÍS.

Vissaka Aicondo, de 42 anos de idade, membro desta comunidade reiterou o drama por que passam durante o período de frio na região. Ela diz que falta de tudo um pouco: Sal, vestuário e cobertores para se defenderem das alterações climáticas, uma vez que vivem no meio de árvores sem qualquer proteção, sobrevivendo graças às fogueiras que fazem para minimizar a situação do frio e dos animais ferozes. A falta de comida também é um problema sério”.

Entre as crianças verifica-se um estado de desnutrição aguda, assim como em mulheres em fase adulta, tal como nos confirmou o líder comunitário com quem conversamos, agravada pela falta de assistência sanitária e medicamentosa.

“As doenças não acabam porque não temos nada para comer. Os frutos que recolhíamos agora não aparecem também. Ajudem-nos porque vamos mesmo acabar por morrer”,-pediu Banquinha Jade, de 30 anos, filha de uma das famílias encontradas naquela comunidade.

“A chegada da reportagem de OPAÍS àquele local espalhou, entre os membros da comunidade, um sentimento de espanto, tal é o isolamento a que se dizem votados os membros pelos grandes centros comunitários”,- conforme ficou expresso por um dos nossos anfitriões.

Assim sendo, devido à sua condição de nómadas, o seu contacto com outros povos não é frequente. Mas ainda assim, a alegria era visível nos seus rostos, pois a ideia que prevalecia era a de que os salvadores dos problemas todos haviam chegado, no caso a nossa equipa de reportagem, conforme esclareceu um dos membros.

“Estamos contentes por se lembrarem de nós porque aqui vamos morrer de fome se vocês não fizerem nada. Vão explicar a nossa situação. Queremos ajuda”,-suplicou uma mais velha e membro da tribo, Etu Citchocanva, de 82 anos de idade.

Acto contínuo, um grupo de mulheres de que a interlocutora fazia parte, suplicava igualmente em uníssono: “queremos que vocês que cá estiveram tenham visto como estamos a sofrer. Podemos acabar de morrer se não tivermos apoios. Por favo, avisem os outros”.

Sociólogo defende nova classificação etnoliguistica e valorização das minorias

Para o sociólogo Pedro Maria de Castro, os problemas das memórias étnicas, como é o caso dos Sans, chamados erradamente por khoisan, segundo disse, veem a partir da colonização e do reconhecimento da sua identidade cultural.

O especialista sustentou que os estudos etnográficos existentes em Angola estão viciados pelo facto de ter sido feito pelos colonizadores, tendo sugerido que se faça uma nova classificação aos grupos minoritários, onde esses grupos pudessem ser chamados consoante as suas próprias raízes. “O mapa étnico foi estabelecido pelos colonialistas portugueses, na base de uma visão exógena, sem serem conhecedores da verdadeira identidade desses povos. Precisamos mais investimento para investigar e corrigir esta questão”, precisou.

O sociólogo disse ser esta a razão por que essas populações são descriminadas e excluídas, deixadas à sua sorte, enfrentando dificuldades adversas. Maria de Castro lembrou a importância da diversidade etnolinguística mas chama a atenção para um reconhecimento desses grupos minoritários, nomeadamente, os conhecidos Khoisan e outros que não aqueles de substracto Bantu, se a ideia for contruir uma Nação verdadeiramente consolidada.

Referiu também como inconcebível o estado quase meio primitivo em que estas minorias vivem, como a dos San, sem deixar de considerar a necessidade de uma nova classificação e reconhecimento, sendo esta situação argumento não suficiente para a sua extinção. No país estes povos são encontrados em menor número nas regiões do Kuando Kubango, Huila, Cunene e também no Moxico.

Mestiçagem e falta de representação política ameaça a extinção etnica

Por seu turno, o historiador Armelindo Jaka Jamba, disse que, do ponto de vista ambiental, não existem ameaças fortes, até porque a tendência tem sido a da criação de determinadas condições que permitam que essas minorias sobrevivam como tal.

Na visão de Jaka Jamba, a maior preocupação neste momento e que pode criar barreiras em termos de crescimento e desenvolvimento, é a falta de clareza na sua integração politica.

“Mas terão que ter representatividade, não podendo mascarar um quadro de elementos de outros grupos e defender os seus interesses. É preciso que numa maioria exista alguém para falar dessa minoria nesse contexto. E então, é ali onde pode partir a sua legitimidade de existência como minoria, defendendo toda uma serie de direitos que ela deve observar” defendeu.

Estes grupos étnicos minoritários, na visão do também docente da Universidade Agostinho Neto, estão revestidos de uma transcendental importância, pois representam a essência daquilo que somos nós e de onde viemos como povos.

O académico considerou ter sido isto que se consagrou ou convencionou a luta como angolanos, ser uma construção que provém destes todos segmentos de grupos de povos que habitam territórios de Angola em tempos mais recuados.

“Significa que os valores éticos, costumes e tradições, incluindo todo esse património linguístico que temos, uma vez assentado em políticas públicas, permitam que construamos um novo tipo de nações, sem sufocarmos a nossa identidade, que convergem da grande identidade nacional,” enfatizou.

Quanto à mestiçagem e ao desaparecimento da matriz destes povos, Jaka Jamba salientou que “a história da humanidade está repleta de muitos casos de povos que por não terem políticas de auto defesa, em termos de defenderem- se quanto a sua cultura, língua e mesmo de identidade cultural, foram extintos”.

Ele disse ser de opinião que esses processos fossem tomados de uma forma rígida, pois as culturas sempre sofreram influências de outras culturas.

“O grau da mestiçagens é outra questão que pode ser considerada um dos motivos do extermínio da base original devido a auto defesa identitária”, observou a fonte.

À título de exemplo, o pesquisador chamou particular atenção ao facto de a TPA passar outros modelos de cultura, contrárias àquilo que tem sido a cultura tradicional dos chamados Khoisan e outras minorias.

Jaka Jamba defende por isso que o poder político devia velar pela representatividade deste povo na configuração política actual, à luz do quadro constitucional.

A fonte reforçou ainda que o facto de as línguas dos Khoisan não serem apreendidas nas escolas por não serem oficiais em Angola, pode não fazer parte do sistema educativo. Na visão do interlocutor deste jornal, todos estes fatores podem ser sujeitos a um leques de riscos e ameaças que sofrem essas minorias e que não deveriam ser simplesmente objecto de curiosidade dos antropólogos, sociólogos mas também objecto de estudo quanto a sua integração politica.

O historiador sugeriu a sua promoção para que não se percam essas culturas e parte dessas línguas, uma vez que representam um dos traços do mosaico cultural do nosso país.

“Temos feito muito pouco para garantir a sua pujança, vigor e direito à existência, porque são realidades históricas que devem merecer atenção da parte das elites politicas como de cientistas sociais” advertiu o pesquisador, Jaka Jamba, para quem a preocupação em Angola está muito aquém das necessidades.

“O grau de mestiçagens é outra questão que pode ser considerada um dos motivos do extermínio da base original devido a auto defesa identitária, observou a fonte.

A fonte exortou a promoção para que não se perca essas culturas e parte dessas línguas uma vez que representam um dos pontos dos mosaicos culturais do nosso país.

“Temos feito muito pouco para garantir a sua pujança, vigor e direito de existência, porque são realidades históricas que devem merecer atenção da parte das elites politicas como de cientistas das ciências sociais” advertiu o pesquisador, Jaka Jamba, para quem a preocupação em Angola estar muito aquém da necessidade.

Ministério da Cultura considera exclusão da étnia preocupante

De acordo com a ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, esta situação da exclusão e falta de estatuto das minorias étnicas representa uma das grandes preocupações do governo. A governante considerou pertinente manter o mosaico de identidade desses povos, uma vez que fazem parte do património nacional do nosso país.

Ela reconheceu insuficiências em termos de enquadramento sociopolítico dos Khoisan, bem como de outros grupos minoritários existentes em Angola. Por isso mesmo, anunciou estar em curso um programa de restruturação do quadro etnográfico do país, e um enquadramento dessas minorias no sistema de ensino nacional.

“Estamos realmente preocupados com essa situação, pois esses povos constituem um dos mais ricos patrimónios culturais de Angola”,-disse a ministra, tendo sublinhado a preservação dos seus hábitos e costumes como um dos grandes desafios do seu pelouro.

Entretanto, nesta última semana, especialistas e historiadores juntaram-se à mesma mesa, na cidade de Menongue, província do Kuando-Kubango, (onde os khoisan são encontrados em maior número), para abordar questões ligadas ao seu reconhecimento e enquadramento social. No encontro ficou patente a necessidade de uma intervenção urgente porquanto estarem a beira de uma “extinção silenciosa” em virtude do estado de natureza em que vivem.

Historia dos Khoisan

 Esses povos são considerados os primeiros povos a habitar esta região Austral de Africa, muito antes da grande migração histórica, a dos povos Bantus segundo disse o Historiador Jaka Jamba. Um processo que em termos de data ainda não conferir dados muito concretos sendo o seu núcleo original, ter como origem a região entre o rio Níger e o seu afluente Ben ué.

Em Angola, encontram-se em muitos grupos etnolinguísticos, com a permanência desta raíz, Munto, Antou, Vantu, e bantu, assegurou Jaka Jamba. O historiador explicou também que a expansão desse primeiro núcleo deu-se quando da grande migração Bantu que Africa registou nesta mesma região do Níger e Benué, há dois mil anos, perto dos camarões, e ao este, processo que mais tarde avançou até a região dos grandes lagos, sendo essa que acabou de certa medida acabar por empurrar esses povos mais a sul, como é o caso dos designados Khoisan. Em Angola, antes do conflito na região do Kuando Kubango e parte do unene marcavam presença muitos destes povos que depois então foram a outras áreas da fronteira com o Botswana, Namíbia e só uma pequena parte ficou no país.