Tribo das Margens do Rio Omo “Homens de Kibish” na Etiópia

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Às margens do Rio Omo, na Etiópia, vivem algumas comunidades tradicionais, entre elas os Bodi (Me’en), Daasanach, Kara, Kwegu, Mursi e Nyangatom. Estes povos somam cerca de 200 mil pessoas e ganharam visibilidade em todo o mundo, através do trabalho do fotógrafo alemão Hans Sylvester. Interessado em suas pinturas e posturas corporais, Sylvester acompanhou-as por seis anos, retratando alguns dos muitos aspectos artístico-culturais de algumas delas. Seu trabalho foi publicado no livro “Natural Fashion – Tribal Decoration from Africa” (Editora Thames & Hudson). Voltado à princípio para o mundo da moda, hoje se transformou em importante instrumento ativista. A pintura corporal dos Povos do Rio Omo, desenvolveu-se pela disponibilidade de cores oferecidas pelas condições geológicas do local onde vivem: o vale Rift, região vulcânica de onde extraem variada quantidade de pigmentos naturais. As pinturas são combinadas com arranjos de frutas, flores, cascos, folhas e galhos, o que as tornam ainda mais belas e peculiares.

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Nesta região africana habitam ainda algumas tribos cujo modo de vida se assemelha à pré-história: Dassanesh, Mursi, Hamar, Karo, Bume e Beshadar. No vale do Rift, onde se encontra a grande fenda africana que separa geograficamente os negros dos árabes, é uma região vulcânica que fornece uma grande diversidade de pigmentos com uma grande variação de cores. 
 
Com estes pigmentos, alguns raros, as tribos do rio Omo praticam a sua arte. Para a cultura Ocidental, estes seres são verdadeiros génios da pintura, pois os seus traços lembram muito a arte contemporânea de Picasso, Miró, Paul Klee e Tapies. Estas pessoas pintam o seu corpo à velocidade de um “action paint” de Jackson Pollock
 
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Em poucos minutos, com uma rapidez impressionante, decoram o peito, seios, pernas e pés. Não usam pincéis, apenas uma habilidade fantástica com a ponta dos dedos. Trata-se de uma arte ancestral praticada por todos da tribo: idosos, adultos, jovens e crianças. A aprendizagem ocorre apenas com a simples observação.Este povo integra-se perfeitamente na natureza, fazendo parte dela e sendo como ela. A arte deste povo é praticada por ele mesmo. Não há explicação nem teorias. Por isso, é arte no mais alto grau de pureza. Cada indivíduo é motivado apenas pelo desejo. O desejo de ser belo, de seduzir e de exteriorizar o prazer.
 

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Mas, o progresso precisa de energia elétrica. Há um projeto de construção de uma barragem no rio Omo para uma central hidrelétrica que vai gerar energia para Adis Abeba, capital da Etiópia.Infelizmente, o governo daquele país não está nada preocupado com as possíveis consequências nefastas desta barragem para estas tribos.O rio terá uma redução para um quinto do seu tamanho e irá acabar com as planícies alagadas que são essenciais para  agricultura tribal destes habitantes.Esta cultura pura, intacta, deve estar, infelizmente, com os dias contados. Um povo milenar pode-se tornar miserável em questão de dias. 
 
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No futuro talvez tenhamos apenas fotografias deste povo fascinante e da sua riqueza artística, para podermos mostrar às gerações vindouras.A nova geração da Etiópia terá imensa energia elétrica para poder apreciar toda esta beleza num computador.Esperemos que os governantes deste país, ainda muito longe do desenvolvimento, tenha a capacidade para se aperceber que a cultura e as tradições de um povo fazem parte do bem-estar de toda uma nação que se quer desenvolvida e próspera.

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O Rio Omo nasce nos planaltos do Shewa, na região central da Etiópia e deságua ao sul, no famoso Lago Turkana, na fronteira com o Quênia (você já assistiu o filme “O Jardineiro Fiel”?). Às suas margens foram encontrados fósseis dos “Homens de Kibish”, ancestrais humanos datados em 195 mil anos, ou seja, os fósseis de Homo sapiens mais antigos conhecidos até o presente momento. O Rio inunda anualmente e quando recua deixa o solo fértil, proporcionando condições ideais para o cultivo de sorgo, milho, feijão e outras culturas praticadas pelos povos que ali vivem. O Vale Inferior do Omo é considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, enquanto o Parque Nacional do Rio Omo é a maior Unidade de Conservação da Etiópia. É no Baixo Vale do Omo que encontramos uma das poucas matas fluviais inalteradas da região semiárida africana, que abriga enorme biodiversidade.

Tamanha importância arqueológica, cultural, ecológica não foram suficientes para barrar a prática do “desenvolvimento a qualquer custo”. Em 2006, o governo iniciou as obras da barragem hidrelétrica Gibe III. As consequências são catastróficas: o Omo ficará reduzido a um quinto, trazendo impactos socioambientais irreversíveis.

Na construção da Gibe III, que deve gerar energia para a capital etíope, estão envolvidos o governo local, o Banco Africano de Desenvolvimento, uma empresa italiana, um banco chinês, entre outros empreendedores. Mas será que vale a pena destruir culturas milenares e diversos ecossistemas em troca de energia elétrica?

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Todas as fotos: © Hans Silvester

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