
Apesar dos inúmeros avanços, a globalização produz um fenômeno preocupante, a deterioração dos hábitos alimentares. Com a incidência dos alimentos de origem industrial, crianças e adultos estão cada vez mais imersos em uma dieta baseada em congelados e conservantes.
Para jogar luz sobre o assunto, o fotógrafo Gregg Segal produziu um ensaio usando crianças de diferentes origens sociais. Daily Bread (pão diário, em tradução ao português), conta com quatro crianças, duas oriundas das chamadas comunidades tradicionais e uma dupla da cidade, um de classe média e outro morador de uma favela nos arredores da capital federal.
Kawakanih Yawalapiti, de 9 anos, moradora no Alto Xingu, em Mato Grosso. Na fotografia, é possível perceber uma alimentação baseada em frutas como abacate e manga. A garota consome ainda tapioca e bastante peixe.

O choque aparece logo com a fotografia de Henrico Valia, de 9 anos. Membro de uma família de classe média de Brasília, a dieta do garoto é quase 100% industrializada. Tirando a presença de poucas frutas, como a banana, o rapaz come pão, chocolate, pipoca, pizza e salgadinhos.
Em entrevista à Folha de São Paulo, o fotógrafo Gregg Segal diz que se sentiu feliz em ver uma linha do tempo constante na alimentação das comunidades tradicionais. “Foi revigorante retratar as comunidades indígenas e ver alimentações que não mudam muito ao longo das gerações, basicamente com o que há disponível por perto. Não há açúcar refinado nem embalagens plásticas envolvendo os alimentos”, encerra.

No caso de Davi, que mora na favela de Santa Luzia, também em Brasília, os produtos industrializados não dominam o cardápio. Na verdade, existe aqui uma questão financeira, já que cereais, iogurtes, não são nada acessíveis nos supermercados. Por isso, o garoto consome, sobretudo, arroz e feijão. Curiosamente, dá pra perceber a presença das folhas, como o alface. Uma ausência nas fotos de Henrico.
Por fim, Ademilson dos Santos, 10 anos, vive na comunidade Quilombolas Kalungas de Vão de Almas, em Goiás. Em seu ensaio, os olhos brilham com a presença de tanta fruta. Laranja, melancia, manga, abacate, estão todas lá. Tem ainda, bolo, uma gama de alimentos proporcionados pela terra. O que mostra, mais uma vez, a necessidade de preservar estes espaços habitados por quilombolas.

Segal começou a investigar semelhanças e diferenças nos hábitos alimentares das pessoas com o projeto Seven Days of Garbage (sete dias de lixo), em 2014. Desde então, ele pede aos voluntários que guardem tudo o que jogariam fora. Daí, ele os fotografava rodeados de sua produção. Gregg foi percebendo que a maioria do entulho eram embalagens de comida.
O mais novo trabalho contou com ajuda de Anna Penido, Ana Paula Boquadi e Tainá Förhmann. A base foi montada em Brasília, onde fotografou crianças de origens diversas.

“Estou focando nas crianças porque os hábitos alimentares, que se formam quando somos jovens, duram uma vida inteira e, muitas vezes, abrem caminho para problemas crônicos de saúde, como diabetes, doenças cardíacas e câncer de cólon”, explica na descrição do projeto.
Daily Bread é mais um elemento importante para alertar sobre o avanço da obesidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde, todo anos 2,8 milhões de pessoas adultas morrem em consequência do sobrepeso. Tem mais, 44% dos casos de diabetes, 23% dos registros de cardiopatias isquêmicas e 41% dos casos de câncer podem ser atribuídos à alimentação desregulada.