SONETO DO MAIOR AMOR (VINICIUS DE MORAES


Soneto do maior AMOR

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste

O amado coração, e que se agrada

Mais da eterna aventura em que persiste

Que de uma vida mal-aventurada.


Louco amor meu, que quando toca, fere

E quando fere vibra, mas prefere

Ferir a fenecer – e vive a esmo


Fiel à sua lei de cada instante

Desassombrado, doido, delirante

Numa paixão de tudo e de si mesmo.

SER(AFIM)

Ser(afim) – Soneto de Márcia Sanchez Luz

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças,
é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quanto das impossibilidades vividas.
(Arthur da Távola)




Deep In The Woods – Inga Nielsen

Quem encontra um Ser(afim)
tem na vida um anjo raro.
É feito do mesmo barro
com que faz Deus seu jardim.

Ele é todo de jasmins,
brota água fresca do jarro
que enfeita o que sempre é caro
aos olhos de um Querubim.

Não é fácil encontrar
no meio da multidão
um ser tão particular!

Há que segurar-lhe a mão,
fazer carinho, mimar
e agradar seu coração.

POSTADO POR @VIVIMETALIUN

OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO

Os Ombros Suportam o Mundo (Drummond)

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

AS SEM-RAZÕES DO AMOR (CARLOS DRUMOND DE ANDRADE

As Sem-razões do Amor (Carlos Drummond de Andrade)

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

DA LAGOA DA ESTACA A APOLINÁRIO

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Sempre pensara em ir
caminho do mar.
Para os bichos e rios
nascer já é caminhar.
Eu não sei o que os rios
têm de homem do mar;
sei que se sente o mesmo
e exigente chamar.

 

Eu já nasci descendo
a serra que se diz do Jacarará,
entre caraibeiras

de que só sei por ouvir contar

Pois, também como gente,não consigo me lembrar dessas primeiras léguas de meu caminhar.Deste tudo que me lembro,lembro-me bem de que baixava entre terras de sede que das margens me vigiavam.Rio menino, eu temia aquela grande sede de palha,

 

Grande sede sem fundo que águas meninas cobiçava. Por isso é que ao descer caminho de pedras eu buscava,que não leito de areia com suas bocas multiplicadas.Leito de pedra abaixo rio menino eu saltava.Saltei até encontrar as terras fêmeas da Mata.

 

João Cabral de Melo Neto