Como a Copa de 1962 botou o Chile em pé mesmo após o mais forte dos terremotos

1956: Chile e Argentina duelam pela oportunidade de sediar a Copa do Mundo de 1962, após duas edições realizadas na Europa. Apesar de a Argentina ser mais poderosa, ter melhor infraestrutura e tradição esportiva, Carlos Dittborn, presidente da Federação Chilena, convence a Fifa, lembrando que o estatuto da entidade previa o papel da Copa como motor para países menos desenvolvidos. A frase “Porque não temos nada, então faremos tudo” se tornou um lema.

22 de maio de 1960: Com as obras para a Copa em estágio avançado, o Chile é atingido pelo terremoto mais forte já registrado pela humanidade. O Sismo de Valdivia atingiu 9,5 graus na escala Richter, atingindo dezenas de cidades chilenas.

Estima-se que de 1 mil a 6 mil pessoas morreram, enquanto dezenas de milhares ficaram feridas e mais de 2 milhões perderam suas casas. De acordo com dados da época, cerca de 25% da população chilena ficou desabrigada. O tremor foi tão forte que provocou tsunamis capazes de provocar estragos em Havaí, Japão e Filipinas.

Das oito cidades escolhidas para sediar as partidas da Copa, quatro (Talca, Concepción, Talcahuano e Valdivia) foram severamente afetadas pelo terremoto e precisaram sair da lista.

Houve discussão sobre a capacidade do país de receber a competição, além de debates sobre a importância de insistir na ideia enquanto a reconstrução do país era a prioridade óbvia. “O Mundial, senhores, será no Chile, sim ou sim”, disse o presidente do Chile, Jorge Alessandri Rodríguezo, à FIFA.

A ideia do mandatário era que a Copa poderia dar uma injeção de ânimo na população, cujo estado de espírito estava abalado pelas mortes e pela destruição de casas e estabelecimentos comerciais.

Depois do terremoto, o governo chileno praticamente não investiu mais nos preparativos para a Copa, focando suas verbas na reconstrução das cidades mais afetadas e nos esforços para abrigar novamente as pessoas que perderam suas moradias.

No fim das contas, se decidiu que o Mundial seria realizado em apenas quatro sedes: Arica, Rancagua, Santiago e Viña del Mar. Graças à união do país, foi possível trabalhar, em paralelo, na ajuda às vítimas, na reconstrução do país e nos preparativos finais para a Copa.

Carlos Dittborn, símbolo dos esforços para garantir que o Mundial acontecesse no Chile, sofreu um ataque cardíaco um mês antes da abertura da competição e morreu. O estádio de Arica, que recebeu seis jogos da primeira fase e um das quartas de final, foi batizado com seu nome.

Dentro de campo, a seleção do Chile também foi motivo de orgulho para a população. Sem muita tradição futebolística, conseguiu passar pela Itália na fase de grupos, se classificando junto com a Alemanha Ocidental. Nas quartas, passou pela União Soviética.

O estilo de jogo físico, às vezes até desleal, fez com que a seleção chilena fosse mal falada por muitos torcedores e jornalistas, mas, para a população local, não importava. Eles entravam em campo para defender o país.

A semifinal seria contra o atual campeão Brasil, que, mesmo sem Pelé, tinha Garrincha, Vavá e tantos outros craques capazes de decidir a partida, que acabou em 4 x 2.

A seleção chilena venceria a Iugoslávia, com um gol de Eladio Rojas no último minuto, para garantir o terceiro lugar, melhor colocação do Chile em Copas até hoje. A competição realmente serviu para animar o espírito do país, e a frase célebre de Dittborn se tornou um símbolo da reconstrução. “Porque não temos nada, então faremos tudo”.

 

Fotos: Reprodução/fonte:via

Único técnico negro na Copa, senegalês Aliou Cissé pede mais chances aos treinadores africanos

Há incontáveis jogadores negros que deixaram seus nomes marcados na história do futebol. Mas, se pararmos para pensar em quantos técnicos ou dirigentes negros atuam ou atuaram nos clubes ou seleções de elite mundo afora, dificilmente lembraremos de mais que um punhado de nomes.

Na Copa de 2018, por exemplo, só há um treinador negro comandando alguma das 32 equipes que disputam o Mundial. É Aliou Cissé, senegalês que foi capitão de sua seleção em 2002, quando Senegal fez sua primeira participação, chegando às quartas de final (um recorde entre os africanos), e agora busca façanha parecida do lado de fora do campo.

Sou o único técnico negro da Copa, é verdade. Mas esse tipo de debate me incomoda. Acho que o futebol é um esporte universal e que a cor de sua pele importa pouco”, comentou Cissé em entrevista coletiva, antes de defender a qualidade de treinadores africanos.

Vale lembrar que das cinco seleções africanas que disputam a Copa, apenas Senegal e Tunísia (treinada pelo tunisiano Nabil Maâlou) têm técnicos nascidos no continente. A Nigéria é comandada por um alemão, enquanto um argentino e um francês treinam Egito e Marrocos, respectivamente.

Temos uma nova geração (de técnicos) que está trabalhando, dando seu máximo. Não somos apenas ex-jogadores, mas também somos ótimos taticamente e temos o direito de estar entre os melhores treinadores do mundo”, afirmou.

Ao chamar a atenção para a qualidade dos treinadores africanos, ele fez questão de citar Florent Ibengé, técnico da República Democrática do Congo, que não se classificou para a Copa, mas é a atual campeã continental. “Você vê muitos jogadores africanos nos grandes clubes europeus. Agora precisamos de técnicos africanos para que nosso continente continue avançando”, disse.

Além de único treinador negro na Copa, Cissé é também o mais jovem (42 anos) e o que recebe o menor salário: de acordo com o canal de TV holandês Zoomin, seu ganho anual é de 200 mil euros, o equivalente a cerca de 870 mil reais.

Na comparação com os estrangeiros que treinam Egito, Nigéria e Marrocos, a diferença é considerável: o argentino Hector Cúper fatura 1,5 milhão de euros (R$6,5 milhão) no Egito, o francês Hervé Renard leva 780 mil euros (R$ 3,4 milhão) por ano em Marrocos e o alemão Gernot Rohr recebe 500 mil euros (R$ 2,1 milhão) na Nigéria – sempre em salário anual.