Pesquisador de tartarugas tem prêmio cassado por foto com mulheres de biquíni

A entrega do prêmio Herpetólogo de Destaque precisou ser cancelada depois do surgimento de fotos de mulheres de biquíni relacionadas com Richard Vogt. De acordo com matéria do jornal Folha de São Paulo, o cientista especializado há mais de 20 anos no estudo de tartarugas, teve a honraria em reconhecimento ao seu trabalho retirada depois de queixas de membros do comitê julgador.

Durante a palestra no evento, chancelado pela Liga Americana de Herpetologia, Henry Mushinsky – professor emérito da University of South Florida, pediu a colocação de tarjas para impedir a exibição de partes dos corpos das mulheres em trajes de banho. Para o educador, a exibição das imagens poderia causar constrangimentos.

A apresentação seguiu com as tarjas, mas sem autorização de Vogt, que criticou a atitude. Willem Roosenburg, pesquisador da Universidade de Ohio e atual presidente da Liga, assegura que a colocação das tarjas foi feita sem consenso entre membros do comitê.

As fotografias são de pesquisadoras e estudantes, que enquanto interagem com as tartarugas, são fotografas em roupas consideradas impróprias. Segundo algumas pesquisadoras, que preferiam não se identificar, o professor Vogt fazia piadas recorrentes de cunho sexual em suas apresentações.

O fato gerou uma série de críticas nas redes sociais. Em função da grande repercussão negativa, membros do comitê científico se reuniram e resolveram retirar o prêmio. Apesar de algumas fotografias mostrarem homens, entre eles o próprio pesquisador, a mudança foi feita, de acordo com Roosenburg, por causa das constatações de constrangimento.

“O professor é conhecido por possuir comportamento inapropriado em relação às mulheres. Infelizmente, o professor tem uma reputação de longa data de usar fotos inapropriadas em suas apresentações e a decisão de censurá-las foi tomada por essas atitudes serem consideradas ofensivas e não profissionais”, relatou.

Em e-mail enviado ao New York Times, Richard Vogt se defendeu dizendo não “haver nenhuma conotação sexual ou indecência nas fotos. É muito triste que isso tenha acontecido comigo, membro do comitê há mais de 50 anos”.

A objetificação do corpo feminino, assim como casos de assédio contra mulheres no campo da ciência não são novidade e já fizeram parte da pauta do movimento #MeToo. A revista norte-americana Quartz dá conta que mais da metade de mulheres estudantes de medicina em 2018 disseram ter sofrido algum tipo de abuso durante a graduação.

Em 2014, um estudo apontou que ao menos 64% dos cientistas acusados de comportamento sexual inapropriado cometeram os atos ilícitos enquanto trabalhavam. Os assédios ocorreram durante coleta de dados e em pesquisa de campo.

Por outro lado, a censura também pode ser um sério indício de hiper sexualização do corpo da mulher por parte do comitê que decidiu pelo veto. Sem uma apuração mais aprofundada do caso fica difícil emitir algum juízo de valor. O corpo nu de uma mulher, assim como de biquíni, não deveria ser objeto de censura nem, tampouco, de comentários sexuais ou abusos. Resta saber, no caso relatado, se a objetificação partiu de um lado, de outro, ou de ambos.

Fotos: Reprodução /fonte:via