Desde a virada do século XIX para o século XX, com o surgimento das vanguardas artísticas e a afirmação do que ficou conhecido como arte “conceitual”, que os limites pode ou não pode ser considerado arte tornaram-se virtualmente impossíveis de serem determinados.
Algumas experiências, porém, levam essa questão ao limite do absurdo: se no ano passado um simples par de óculos deixado no chão de uma galeria em São Francisco, nos EUA, foi tratado como se fosse uma obra, agora foi um mero abacaxi que, ao ser deixado sobre um suporte no meio de uma exposição, na dúvida passou a ser visto como se fosse arte – com direito a uma proteção de vidro.
A exposição acontecia em uma galeria dentro de uma universidade na Escócia, e um grupo de estudantes da universidade admitiu terem comprado o abacaxi (por uma libra, pouco mais de 4 reais) e abandonado a fruta no meio do evento, entre as obras, para que fosse confundido com arte.
E deu certo: quatro dias depois, ao retornar à galeria, descobriram o abacaxi protegido por um display de vidro, com toda pompa e circunstância de uma obra de fato. “Eu vi um mostrador vazio e decidi ver por quanto tempo o abacaxi ficaria ali até que as pessoas acreditassem se tratar de arte” , disse um dos estudantes.
Uma das organizadoras da exposição garantiu não ter sido ela a colocar a proteção, por ter “alergia a abacaxi”. O mistério permanece, pois trata-se de um vidro pesado, que precisaria de 2 a 3 pessoas para move-lo até o mostrador. A organização decidiu manter o espírito da brincadeira, e incorporar o abacaxi à exposição – que trata de artes visuais e design.
Não é fácil, de fato, interpretar e realmente compreender os limites do que pode ou não ser considerado arte hoje, e isso é uma virtude profunda e interessante das produções atuais, mas é também certo que basta um museu, uma galeria ou um curador dizer que algo possui um sentido profundo – ou melhor, basta parecer que uma dessas instituições disse – para que as pessoas encontrem valores e emoções em qualquer coisa. Até mesmo em um abacaxi esquecido.
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