Passar uma noite no Pantanal matogrossense é sentir-se como um intruso em meio a natureza. O ruídos das cigarras, sapos e outros animais misturam-se e o céu que explode numa infinidade de estrelas que dificilmente se encontram por aí. Durante uma focagem noturna (passeio típico na região, onde você sai numa jardineira, em silêncio, para avistar animais), os olhos dos jacarés tilintam na escuridão, tamanduás-mirins escondem-se entre as árvores e, caso você tenha sorte, pode até avistar uma onça pintada!
Foto: Wiki Commons
Muita gente fala sobre a Amazônia e suas águas, mas poucos sobre o Pantanal, a maior área tropical úmida do mundo, declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO e distribuído em 70.000 milhas quadradas entre o Brasil, Bolívia e Paraguai. Não é preciso, portanto, cruzar continentes para ver de perto animais vivendo em seu habitat natural.
Foto: Luiza Ferrão
Aqui você ouve histórias de gente que lutou com cobras, sai para pescar piranhas quando a tarde cai e se depara com um céu multicolorido que reflete-se num espelho de águas. Reconhece araras-azuis (em extinção), caminha por trilhas na mata e sente um frio na barriga ao ouvir o som gutural do macaco bugio, que provavelmente te vigia do topo de alguma árvore! Come poeira numa jardineira em busca de animais e se encanta ao encontrar tamanduás-mirins, tamanduás, capivaras, antas, tuiuiús e veados.
Foto: Luiza Ferrão
Sim, o Pantanal é o lar da maior concentração de vida selvagem do continente. Impossível não chegar, sentir e pensar: nossa, que espetáculo da natureza! Parece clichê (e provavelmente é), mas não deixa de ser verdade. E também, diga-se de passagem, não é lugar de muita frescura. Mesmo no mais luxuoso dos hotéis, como o Refúgio Ecológico Caiman, é possível que você se depare com um grilo no box do banheiro, ou ouça o som de uma rã que se esconde no seu quarto por dias, sem sinal de encontrá-la.
DANÇA DAS ÁGUAS
O cenário se transforma de acordo com a época do ano na maior planície alagável do planeta, cortada por inúmeros rios, pertencentes a Bacia do Paraguai. Entre outubro e março, as chuvas inundam a paisagem, devolvem folhagem às árvores e revitalizam as cores do Pantanal, onde todas as vegetações do continente se fundem: cerrado, mata atlântica, floresta amazônica, caatinga e chaco.
Foto: Luiza Ferrão
Essa é a melhor época para ver aves, que se reproduzem durante a seca e aproveitam a cheia para alimentar os filhotes. Patos, cegonhas e jacarés em busca de alimento protagonizam a cena enquanto mamíferos partem para áreas mais elevadas.
Foto: Wiki Commons
Ás águas cessam entre abril e setembro, e voltam às origens, o rio Paraguai. Mas deixam marcas nas depressões do solo com as baías e lagos onde veados, quatis e tamanduás, entre outros mamíferos, matam a sede enquanto a onça pintada vigia na surdina, procurando alguma presa desavisada para o almoço. Essa é sem dúvida a melhor época para observar animais: as aves, que aqui continuam, vestem-se com nova plumagem e zanzam em busca de parceiros para se acasalar.
Foto: Wiki Commons
CAVALGADA EM RITMO PANTANEIRO
Percorra este território versátil em cima de um cavalo, para alcançar lugares que ainda não foram cortados por estradas e entender um pouco mais sobre a cultura pantaneira. Descendente de bandeirantes, indígenas e sertanistas, o homem pantaneiro, que outrora percorria rios rumo a Cuiabá em busca de metais preciosos, dedica-se hoje a pecuária e cada vez mais, troca essa função pela de guia turístico.
Aqui tudo pulsa conforme mandam as águas, e com o gado não poderia ser diferente: na época da seca, o vaqueiro pantaneiro, que veste chapéus da abas largas, camisa, calça jeans e um cinturão que oculta um facão, deixa que o rebanho se alimente e beba água nos campos baixos. Na cheia, ele é transportado, muitas vezes por dia, às partes altas.
Foto: Wiki Commons
A cerimônia do laço também marca a cultura do povo pantaneiro. Assita-a para ver de perto vaqueiros de diferentes idades, que cavalgavam por uma arena com a corda empunhada nas mãos, perseguindo bezerros para talvez laçá-los.
CHURRASCO COM MODA DE VIOLA
Como em todo o sertão, aqui não falta prosa e moda de viola. Num churrasco pantaneiro servido numa estrutura livre de paredes do Refúgio Ecológico Caiman, é possível se deliciar com carnes servidas em varas de madeira, como o é feito o churrasco na região, acompanhadas por mandioca, arroz carreteiro, feijão tropeiro e outros pratos feitos com ingredientes locais, dando alguns passos após o jantar para ver o céu estrelado. Aqui, também é possível conhecer de perto projetos incríveis de preservação na natureza, como o Arara Azul e o Onçafari.